Do caraças.



Há uma espécie de poesia desempoeirada na métrica que nos rege os dias. 
Aprendemos a contar e a guiar-nos pelos segundos que viram minutos, que viram horas, que viram dias, que viram semanas, que viram meses, que viram anos. Dias há em que andamos à deriva, esquecidos das métricas e donos do nosso próprio tempo, como se este pudesse renovar-se a si mesmo. Noutros, vivemos escravos dos minutos, que trazemos contados na palma da mão, numa correria fugidia contra este tempo que nos salva de si mesmo. 

Há já um tempo que aprendi a contar os sorrisos, e a guiar-me pelo teu – sabes que poderia construir poemas a partir do teu sorriso. Entretanto perdi-me nas contas. Já não sei há quanto tempo foi que me devolveste ao tempo a serenidade de o viver sem nisso pensar. Parece que passou muito tempo; que aí estás desde sempre. 

Sou feliz! Esqueci os calendários e os ciclos lunares. Esqueci as agendas e os relógios. Esqueci que o tempo passa, porque é isso que acontece quando o passamos com ele, e não por ele. Vieste para os meus dias para os tornar maiores, mais cheios, mais plenos. Os teus sorrisos têm o dom de congelar segundos inteirinhos que guardo no estendal da memória, livres, para quando bater saudade poder deixar o meu coração quentinho. Poderia dizer que gostava de resumir tudo o que vivemos neste ano inteiro, e metade de outro. Mas seria mentira. Não queria resumir nada, nunca gostei de resumos! As coisas querem-se inteiras. Quero-te inteiro, a ti, ao nosso amor, ao nosso tempo. Não há segundo que passou de que abdicasse; não há minuto que olvide; não há dia que escolha em prejuízo de outro. Foram segundos e minutos e dias inteiros. Cheios de mim, de ti, de nós – oh, o quanto adoro a 3.ª pessoa do plural! 

Poderia falar de quão especiais são os dias contigo. Mas especial és tu; especial é este amor que partilhamos num mesmo tempo e espaço. Encanta-me essa tua maneira de ser, esse teu jeito tão teu quando estás comigo. Como se o nosso quintal fosse o mundo inteiro e o mundo inteiro pudesse ser nosso, ainda que o não quiséssemos. Cativa-me o teu brilho d’alma que transparece em sorrisos genuínos que me transportam para um caminho de paz interior reconfortante e segura. Sinto-me mais eu quando estou contigo. Sinto-te mais teu quando estás comigo. E não há nada melhor do que sermos apenas, sem pena nenhuma de não termos de tentar ser o que não somos. 

Queria agradecer-te como bênção a um qualquer cosmos superior em que quero acreditar. E agradeço-te todos os dias, ainda que seja baixinho e não me oiças. Agradeço a sorrir, de coração cheio, pelos dias inteiros que vieram porque sim e ficaram sem senão. Dias que me ensinaram que não basta o dicionário para aprender a definição de tempo, de amor, de respeito, de amizade, de paciência, de cumplicidade e companheirismo. Não quero sequer perder tempo a tentar escrevê-los, só quero agora, nesta pausa para recuperar o fôlego de gratidão, que leias nos meus olhos todos os capítulos que por nós, e com calma, foram sido escritos, e não ditados, nestes dias que vivemos. Só quero agora, ler nos teus olhos esta paz e amor que me enche por dentro e me segura por fora, e saber com a certeza própria da vida incerta que é o suficiente para continuarmos a escrever com tempo como o Eça, sem resumos, ora essa, as estórias dos nossos dias partilhados que mais não são que o maior tesouro que alguém pode levar desta vida. 

Obrigada, pelos dias que dividimos. Por inteiro, sem metades. 


* Para a P. e o N.; pelo seu amor por inteiro.
** Para ti, porque está a ser 'do caraças. 
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