Uma vez por calendário, sem qualquer clemência, o tempo pára nos primeiros dias de Fevereiro. Para ser rigorosa, não posso deixar de notar que tudo começa uns dias antes, mais ou menos quando Janeiro começa a chegar a meio.
Há qualquer coisa cá dentro que dispara a ansiedade e a tristeza da saudade que se torna latejante e atinge níveis de dor apenas por um sopro leve suportáveis.
Com insolência sobre a pouca memória não selectiva que me resta, voltam frescas as memórias desses dias que algures na minha mente se congelaram com ímpeto, numa tentativa de salvar alguma da pouca sanidade que me poderia restar.
Engulo em seco e respiro para dentro para conter as lágrimas. Não me quero dar à dor, não me quero dar à saudade. Não me quero lembrar do fim de Janeiro nem do princípio de Fevereiro, nem das notícias que chegaram com eles. É com a mais pura humildade que malquero aqueles dias que mudaram a minha vida para sempre, de uma forma que não podia imaginar e para a qual não poderia estar preparada.
Não posso admitir, porém, que tais dias tão desumanos e atrozes me tirem tudo. Ainda que os tente apagar de mim, todos os anos religiosamente, e sabendo de antemão que perdi vergonhosamente, a verdade é que não os deixarei jamais tirar-me a mim as memórias que até então permanecem vivas e me dão a força necessária para combater a impiedosa brutalidade que demonstraram.
O calendário dita que chegou Fevereiro e as lágimas confirmam-no. Tenho uma saudade que me rasga a alma e me atormenta o sono. Não voltarei, nunca, a ser a mesma. Talvez o que mais custe é que, por dentro, sei que sou sempre a mesma. Apenas mais assustada. Apenas mais sozinha. Apenas mais dorida.
E sempre, sempre, mais saudosa.
Não há dia que não pense em ti minha irmã. Fevereiro só acha que te levou. E só eu sei o quanto me custa.
Amo-te Verinha.