Não há ninguém como tu.


Não há ninguém como tu.


Há pessoas parecidas, da mesma altura, com o mesmo feitio. Pessoas que vestem as mesmas roupas e que sabem falar das mesmas coisas. Há, até, pessoas com os mesmos jeitos. Mas nenhuma, nem uma, como tu.
Lá fora está frio e na rua cruzei-me com um senhor que ostentava uma camisola igual à tua, aquela de cashmere encarnada, onde gosto de me aninhar. Era um senhor mais velho, com uma farta cabeleira branca e um andar sereno a acompanhar a solidão da chuva. Ficava-lhe bem.


Continuei em frente. Quando cheguei ao Banco tropecei num degrau e deixei que tudo me caísse ao chão. Apenas de forma literal, entenda-se.
Com a educação ainda a gravitar por cima, um senhor ajudou-me a apanhar tudo o que jazia espalhado pelo gasto mármore branco. Agradecida, levantei a cabeça e sorri. A olhar para mim, uns olhos cor de mel, como os teus. E eu, atrapalhada devo ter corado, porque ele sorriu. Senti as bochechas mais quentes, como se o meu sangue me quisesse envergonhar. Entrei no elevador e dois segundos depois já pensava noutras coisas.


Mais tarde almocei com um colega, aquele que quando ri me faz lembrar de ti. Penso sempre no nano segundo que te antecede uma gargalhada e fico feliz, como se tudo no mundo estivesse no sítio certo, incluindo eu, que pareço andar sempre perdida, sem jeito ou lugar.


Reconfortada, e já sentada em frente ao computador, reflicto na quantidade de almas que nos rodeiam e nos cruzam os dias; na quantidade de coisas que apitam nos meus sentidos e enviam sinais ao meu cérebro para não me esquecer de que me estou a lembrar de ti. Penso na quantidade de pessoas que conheço e nas que não conheço, nas que ainda vou conhecer e nas outras, que não me darão esse privilégio.
Penso em ti, no quanto do teu eu já me deste a conhecer e no quanto de ti me aviva a memória quando por uma ou outra razão me chega cá dentro.


E concluo, sem sombra de dúvida, que não há ninguém como tu.
Será sempre só teu esse curvar de corpo que me recebe perto dessa camisola.
Serão sempre mais brilhantes e doces os teus olhos quando me olham sem pudor.
Será sempre único o teu sorriso.
A verdade é que não há ninguém como tu, e é de ti que eu gosto.



* Paris.
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