Os três porquinhos.



 De quando em vez a vida varre-nos a serenidade através de pequenas vagas de tornados.
Chegam precipitados, sem aviso, oscilando perigosamente sobre o espírito que tentamos carregar equilibrado, oscilando as costas, instáveis, não fosse a turbulência tão intensa.
O vento lá fora uiva caótico e furioso e o instinto resguarda-nos por dentro, para que a tempestade não nos arraste o espírito. 
O que nos cimenta são os nossos, as memórias, a integridade e os ideais. Quem somos e como escolhemos ser estrutura-nos de forma a que nos seja possível não entrar em colapso ou deformar excessivamente. Vergar, mas não quebrar.
Os danos sofridos são tanto menores quanto mais sólida a nossa estrutura, pelo que nos vamos redimensionando e reforçando para conseguir aguentar as investidas. 
Não raro, sobrevivemos.
Quando restam janelas ou portas para abrir, olhamos para fora e o mundo que vemos está de pernas para o ar. O que nos salta aos olhos é sempre a destruição, o rasto de dor que ainda vibra à passagem de cada tornado, por pequeno que seja. 
Um dia talvez consigamos compreender que a cada pequeno tornado nos fortificamos. Que os destroços maiores ficam cá dentro mas que, ainda assim, somos capazes de nos reconstruir de novo, que o coração é a única máquina que mesmo partida, continua a funcionar. 


* Barcelona.
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