Querida Avó, hoje dei por mim a rir sozinha, sentada numa esplanada, ao lembrar-me de uma das inúmeras histórias que gostavas de contar com a tua pose de Senhora altiva, modos irrepreensíveis de diplomata, cabelos imaculadamente brancos, boca pintada, unhas a condizer e cigarro bem fininho a distrair os dedos esguios.
Descrevias, em tom zombeteiro, aquela vez - há muitos anos atrás - em que foste a uma sala de chá (do Ritz? Em Sintra?) no fim de um dia de trabalho no Ministério e pediste ao “criado” um copo de whisky e ele voltou à mesa com o whisky servido numa chávena de chá, ao lado de um bule, porque parecia mal a uma Senhora.
E tu, claro, Senhora a sério, sem pruridos hipócritas, mandaste-o bugiar e pediste um copo como deve ser.
Lembro-me muitas vezes de ti e de tudo o que me ensinaste. Senhora sim, parva, não.
* My fair lady (1964).
** Gicas@Museu Colecção Berardo.
