Quando a insónia adormece.


Acordei com o futuro na ponta das pestanas, fardo pesaroso que apenas me permitiu um leve pestanejar. Se calha acordar assim, acordo cansada, esgota-me o desgosto da incerteza quando acicatado pela doçura da esperança.
Há dias em que os sonhos se confundem com ramelas. Não os conseguimos lavar sem pudor, desfazer no leite ou deixá-los perdidos numa qualquer reportagem do jornal da manhã.
Desde que acordas aqui que me sabe menos amargo o escuro e menos fria a saudade. O medo dos fantasmas assusta-se com o calor do teu abraço e foge para reinos despovoados, onde não pode fazer mal a ninguém. Adormeço com vontade de acordar, apenas para ver o teu sorriso uma vez mais. E nunca me desilude, mesmo quando só te oiço sorrir por entre o silêncio sombrio das cortinas ainda fechadas. 
Foi assim que me vieste iluminar o sono e relativizar o fado da incerteza. 
Não há nada mais ideal do que o agora. Agora sei-o.
Quando a vida é doce, confunde-se mais com o sonho. E a fé, essa amansa-nos o trilho que nos vai custando menos a vencer. 
Tudo é mais fácil agora que estás aqui.
Sim, acordei cansada, mas apenas por hoje não ter acordado ao teu lado.


* Linha do Douro, tão bonita quanto n'A Cidade e as serras.
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