Pacto leonino.


Sacana, a vida, com aquele jeito muito próprio de nos falar. Por vezes baixinho, ao ouvido, toda ela é mel, e nós, em deleite, deslumbrados, quedamo-nos. 
Idiotas!
A verdade é que é tão simples perder de vista que nos dias maus não demora um minuto para que o doce passe a rude e, embrutecido, nos seja violentamente devolvido. E a simplicidade desse voraz esquecimento deve-se tão só ao facto de o contrário também ser verdade. Sorrisos que nascem como gotas de chuva. Deslumbrante.
E quem anda pela rua esquece-se, não raro, que quando nos damos, temos de nos dar inteiros, sem que nos possamos dividir em sacos amarelos, verdes e azuis.
E é com uma venda nos olhos que mostramos a coragem que nos molda, preparados para o que vier, que nem sempre o bem e o mal se anulam. E as coisas vêm. E nem sempre as vemos a vir. E lá se vai o equilíbrio de um desígnio comum. E de repente há um que ganha e um que perde, que se nem tudo é sorte, também nem tudo é jogo. 
É a lei da selva. E aqui não vigoram as leis civis que estabelecem que nas sociedades é nula a cláusula que exclui um sócio da comunhão nos lucros ou que o isenta de participar nas perdas. 
Na vida em sociedade, anula-se quem o fizer, uma espécie de selecção natural, ou a lei do mais forte.


* Carrasqueira.
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