I get to choose.


«Pára com isso», dizia-me a minha Mãe quando, em tempos, ode a um qualquer trauma que me adveio de ver um filme que não sei qual seja, me deu para acreditar que salvaria tudo e todos, se, de minuto a minuto, batesse três vezes em qualquer coisa e de seguida soprasse nos dedos. Lembro-me de, ainda na casa antiga, a minha irmã não adormecer sem primeiro perguntar se a Mãe e o Pai iam dormir com o braço de fora. A pergunta era feita à vez, e, consoante a resposta, assim ficava o braço dela. Como se só fosse seguro deixá-lo de fora se mais alguém o também fizesse.
No meio de tantas taras, tiques e manias que me têm acompanhado, uma há que persiste até hoje. Às vezes, quando tenho uma coisa para fazer, ou uma decisão importante a tomar – ou talvez não tão importante assim, no judging – decido confiar em comportamentos externos que me são completamente alheios – uma espécie de jogos de fortuna ou azar em versão vida real. Se o sinal ficar encarnado antes de lá chegar, não te ligo. Se continuar verde, terei de te ligar. Em dias maus, quando o vejo amarelo, não me consigo decidir. O normal é acabar por fazer aquilo que realmente quero fazer mas cujo peso da decisão não tenho coragem de assumir. Atenta que o resultado final sê-lo-á sempre final. Os meios justificam os fins e o fim, para todos os efeitos, será tão só aquele, sem que venham a público quaisquer processos mentais de reflexão e decisão.
A decisão será uma e aquela, não tendo aqui relevância, ao contrário de tudo o que sempre me ensinaram na escola, conseguir explicar o raciocínio.  







* Fairfield Porter, The mirror, 1966.
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