Singularidades dos dias comuns.


«You don’t recognize the biggest day of your life, not until you’re right in the middle of it. The day to commit to something or someone, the day you get your heart broken, the day you meet your soul mate, the day you realise there’s not enough time because you wanna live forever. Those are the biggest days, the perfect days…you know?»



Talvez o dia tenha nascido como qualquer outro dia, talhado para ser um dia banal. 
Talvez todos o sejam. Comuns, digo, de uma vulgaridade a toda a prova, sendo essa trivialidade inerente, com que achamos que podemos sempre contar, uma coisa boa, ainda que uma espécie de conforto egoísta e medroso. 
Talvez a verdadeira magia venha do facto de nunca se estar verdadeiramente preparado para o excepcional. Imaginamo-lo, idealizamo-lo, criamos expectativas pintadas com cores que nem sabemos existir e que, na maior parte das vezes, saem goradas, revelando dias mais comuns do que o esperado. 
Na vida não há ensaios gerais, não há encenações perfeitas. O viver vem com as actuações espontâneas, momentos únicos que se não repetem e que valem até o pano cair. 
No geral, são os dias ordinários, os que nascem como qualquer outro, que acabam por ser os melhores, os mais especiais.

E assim foi. Só os mais desatentos achariam dever-se ao acaso o facto de eles terem escolhido casar-se ao som de uma Missa vespertina.

A verdade é que a única coisa deixada ao acaso foi o fado de quem trocou promessas de fé assentes em sonhos, crenças e esperanças, que o futuro é incerto mas é preciso acreditar. Raros momentos de clarividência ou de um qualquer seu desvairado e irracional antónimo.
E mesmo os mais desatentos sabem que Vénus é a primeira estrela a brilhar, o que lhe confere um estatuto algo protector, uma caridade reservada que promete guiar quem precise quando os medos da noite começam a cair, para que nada lhe falte – e talvez por isso haja quem lhe chame chame estrela pastor.
E como se adivinhasse que há quem ache que não passam de promessas ao vento, o vento não parou, num revolto de promessas que as não calou ou esqueceu, que vento não é esquecimento.
E no fim, foi de dentro da Igreja que saiu o brilho maior, um repto coberto de uma esperança tão simples de declamar quanto difícil de praticar: «viver os dias ordinários de forma extraordinária». Este o verdadeiro desafio. Para que depois cante o Sinatra, «what a difference a day made». Porque faz.

Que assim seja.



* Vera e Gonçalo.

My photo
areservamental@gmail.com