Não consigo escrever. Limpaste-me qualquer resquício de capacidade e ocupaste-me a memória de forma massiva e monopolista. Uma branca e o meu cérebro nada assimila que não a última imagem que de ti retenho. Não consigo escrever. Arranjo em tudo motivo para o fazer, mas quando me aproximo do papel, caneta em riste, é como se batesse contra uma parede sólida de vazio. Assola-me a melancolia fria das mentes angustiadas e de ti faço filmes de 35 mm que vejo e revejo vezes sem conta. Não consigo escrever. A luz apaga-se e estás ali, vejo-te em slow motion, a tua cabeça roda devagar e viras a cara para mim, ao mesmo tempo que perguntas se tenho frio. E eu tenho. Recapitulo aquele sorriso tímido que te fez corar como se tivesses de novo nove anos e o mundo girasse apenas para ti. E é a acreditar nisso que me chega ao nariz o teu cheiro, mais intenso atrás da tua orelha esquerda.
* Barcelona.
* Barcelona.
