O ritual de sempre: um elástico a fazer de torniquete o cheiro a álcool logo seguido daquela frescura que sinto sempre que o algodão me roça a pele. O meu cérebro envia de imediato sinais de temor ao resto do corpo e perco a força, abandonando-me a um estado de ansiedade regido apenas pelo desalento.
Oiço ao longe, meio perdidas, algumas palavras de ânimo, tentativa vã de restaurar a serenidade neste coração em alvoroço. A agulha é fininha, suficiente para hoje, que só são precisos 5 mm de sangue. Eu não olho, não consigo olhar, mas sei que a veia está ali, proeminente, sem imaginar sequer a profanação que a espera, enquanto continua a sua rotineira tarefa de conduzir o sangue ao coração.
Num gesto rápido, treinado, o sangue é sugado sem dó nem piedade, para não formar coágulo. Para exercer pressão, de novo o algodão, agora quente, que o sangue não pára de correr.
E no fim, sem forças, abandonada a um rol interminável de pensamentos, lembro-me de ti, e de como por vezes te quero sugar para fora de mim, e dessa tua insistência em continuar a correr-me no sangue que me bombeia o coração.
E, ainda que por um breve segundo, pondero pedir que mo tirem todo.
* Fleet foxes.
** Inês.