Vertigens.


Dou por mim no último andar de um prédio de setenta.

Cá de cima a rua parece uma linha daquelas que vejo no teu caderno, rigorosamente desenhadas a régua e esquadro. As pessoas, pequeninas, parecem pontos a andar sem rumo, ao ritmo de um lento respirar mas de um apressado bater de coração. O vento, alheio a quaisquer ruídos, enche-me os tímpanos de um trespassante silêncio.
Se olhar em frente tudo me parece possível, de uma imensidão contagiante. Nada é grande demais, longe demais, difícil de mais. O mundo é suficiente para tudo quanto quero.
Olho para baixo – asneira. Vomito todas as vertigens que trago cá dentro. Menos de ti. De ti nunca me consigo libertar. Não quero, não sei, interessa lá. Não sei de ti.

E aqui, de onde estou, é voltar para baixo que parece um acto de fé.
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