A submissa.


Bastaram pouco mais de dois minutos para se instalar um encantamento que perduraria por muito mais do que ele poderia imaginar.
Tão ingénuo, esperançoso, mas, ainda assim, seguro de si próprio, sempre no controlo de todos os seus actos.

Iludido, acreditava que a vontade era a sua.

No meio de corriqueiros penhores acabou por, sem sequer o saber, empenhar o seu bem maior – a sua alma.

E ela, inocente, mas ciente disso, fingiu-lhe as vontades, até se perder num esquizofrénico mundo de silêncio a que a remetia a inexperiência.

Ele, quando deu por isso, era tarde.

A indiferença tem um preço. E a humildade acordou tarde demais.

Agora jaz ali, inerte, fiel ao silêncio a que se haviam habituado. E ele, com tanto por lhe dizer, perplexo perante o seu corpo sem vida, chora o atraso de que culpa a sua ausência.

Nada será como dantes. E no entanto, tudo será igual.




* Dostoyevsky.









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