De vez em quando é assim.
Ninguém nota.
Não se tecem quaisquer comentários, nem sequer se perde tempo a olhar para o lado.
Não vem nas notícias nem se faz grande alarido.
Abalos sísmicos interiores.
Derrocadas.
Pequenos fins do mundo que me acontecem cá dentro.
Basta uma palavra tua, um olhar.
É o suficiente para ruir.
Com brusquidão, ainda que sem consciência, aniquilas qualquer alicerce que pudesse achar seguro e, num segundo, a fortaleza que fui erigindo pacientemente, à custa de saudade, vontade, persistência e lágrimas, cai, e indefesa me quedo.
Magnitude máxima numa escala inventada por nós.
Ninguém nota.
Visto de fora, e se alguém parar para olhar, tudo parece igual.
Por dentro, despedaçada, uma sombra ténue e frágil daquilo que em tempos consegui parecer.
Um caos infernal diluído em cruzamentos de artérias e tsunamis de leucócitos, eritrócitos e plaquetas.
Mil e dois fragmentos de mim que largo a essa angústia insana que desola qualquer devastador depois.
Perdida, qual refugiada a viver em temor – sempre a temer o mal maior, a tua ausência, essa cuja mera ideia me destroça.
E não tenho outro remédio que não seja pegar em cada estilhaço, e, pacientemente, construir-me outra vez.
E esperar. Esperar até ao dia da próxima derrocada.
Porque essa, mais tarde ou mais cedo, chega sempre.
* Carminho.