Em ti me enlevas e levas até que a leveza te tome.

Se não pensar muito nisso, sou capaz de o dizer.

Atrevo-me – hoje está a ser um dia bom, daqueles a roçar as imediações do feliz.

Normalmente não gosto de o dizer, acho um mau agoiro.
Mas acordei assim, trago-te em mim mais leve, sem pesar no coração.
Descubro que assim desenvolvo resistência ao eco em que persistes, vácuo de ti que me enche algumas noites.

Hoje carrego-te sem que custe, tamanha é a tua leveza de espírito.

Andamos pelos dias a puxar-nos um ao outro, ora para aqui, ora para acolá.
Carrego as tuas angústias assim como tu carregas as minhas. De bom grado, sem qualquer queixume. Sempre com o desejo de tornar o caminho menos duro, que nos queremos bem.

Mas hoje, por um segundo, não vejo angústias, ainda que as saiba reservadas ao longe, à espera de nos surpreender na próxima curva que fizermos de olhos fechados, cabelos ao vento, com pressa mas sem ela, como gostamos.

Leve de espírito, sereno, é assim que hoje te erijo, e que gostaria de te saber sempre – ténue como as manhãs de primavera que nos acordam com o chilrear dos melros; subtil como o suave tom alaranjado com que se pinta o céu no fim dos compridos dias de verão, por entre pinceladas de nuvens e um ameno cheiro a pinheiro; delicado como a doce lembrança que nos agarra a alguns momentos e nos aquece o sentir.

Subtil.
Apenas o suficiente para, depois de te teres instalado em mim com tão cerimonioso à vontade, tornares a tua ausência naquela luz de presença que me aconchega no escuro.






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