9.

Saudade, como fado, é uma palavra única e quente, de alma lusa. Não passível de tradução.

Saudade é, por si só, um fado. Repleto de dor mas de alento.

Saudade, palavra tão leve que carrega sozinha o inimaginável peso de si própria.

E hoje, aqui, tenho saudades de ti.

Saudade que me persegue e ensombra todos os dias desde que aqui me deixaste.

Desde então são segundos e segundos que me têm permitido aprender a desenhar a saudade.
Construo-a a cada segundo que passa sem esse teu sorriso, aquela gargalhada que enchia uma sala e ainda nos ecoa no coração.

Saudade é isso, um sorriso, um pôr-do-sol que pinta o céu em dégradé.

Saudade é um melro a chilrear no beiral da janela e uma gota de chuva que me cai no nariz.

É uma fotografia para onde tento não olhar e o caminho da escola que fazíamos sempre juntas.

Saudade é aquele gelado de que gostavas ou um simples frasco de ketchup que tinhas de pôr em tudo o que comias (Maçã? Really?).

Saudade é um cheiro, uma cor, um gesto.

É uma maneira de olhar e um toque de pele.

É um medo irracional e uma superstição em que acreditar.

Saudade é um lugar, um olhar que revemos em alguém.

É um livro ou uma página, uma tarde ou uma canção.

Saudade é um desafio, uma luz que queremos acender.

É um salto, um joelho esfolado, uma rajada de vento.

É um cabelo fora do sítio, uma camisola de algodão.

É uma voz que se lembra, um som que nos aquece.

Saudade é qualquer coisa e coisa nenhuma.

É um vácuo que nos enche, rastilho da memória.

Saudade é uma partícula intrínseca que nos molda o coração e que, de forma saudável, nos corrompe a alma.

Saudade é esta ausência agradavelmente indesejada que está constantemente presente.

É dor e amor.
Saudade é fado.
Saudade és tu.
E eu sinto a tua falta.

 
Para a minha querida irmã Vera, de quem sinto a falta mais do que tudo. O teu nome é saudade. Nove longos anos desde que aqui não estás.
Demasiados dias, incontáveis horas e infindáveis segundos desde que alegadamente foste embora. Ainda aqui estás, bem sei.


Permaneces
Passam os anos mas tu permaneces.
Passam as horas mas em mim sempre anoiteces.
Passam nas ruas, nos rostos e na pele das pessoas.
Vincam cada segundo como a prova do triunfo que é viver.
Passam nas luzes que guardam a esperança e nos precalços do caminho como que a provar que viver cansa.
Passam nos sonhos e nas vontades.
Desgastam a alma e fazem crescer as saudades.
Passam. Os anos simplesmente passam.
Mas repito, tu permaneces.
Permaneces em mim, naquele lugar tão meu que por isso também é teu.
Somos feitas do mesmo pó de estrelas e é por isso que posso passar horas a vê-las.
Permaneces em sítios por onde passo e em tantas coisas que faço.
Permaneces em sorrisos e canções, mas, principalmente, em gestos e acções...nos corações!
Estás em cada (en)canto do meu mundo e é por isso que ele é mágico.
Como o teu sorriso, que consigo ver sem sequer precisar de fechar os olhos.
Permaneces em mim.
Adoro-te. Sempre.
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