Esperei por ti.
Mais do que achava humanamente possível.
Naquele dia, esperei por ti até o sol descer à terra.
Naquela cadência sonolenta com que o faz, até ao embate final, embrulhei-me em memórias e saudades que, pensei, talvez me ajudassem a aguentar a espera.
Com os pés hesitantes, esticados até à ponta, equilibrei-me à beira da gare.
Um sopro de vento, e o que restava de mim cairia à linha.
Irónico.
Uma linha tão direita, para uma vida tão torta.
Lembro-me de olhar freneticamente para os dois lados, para o infinito de lado nenhum.
Um olhar perdido, sem fim e sem brilho, que ansiava por ti.
Não passava vivalma naquela estação.
Só uma ou outra gaivota que ali ganhava balanço de quando em vez.
O céu, cada vez mais quente, ganhava cor de fogo, aquele que me ia consumindo por dentro.
Ao longe um comboio.
Talvez aquele onde era suposto teres entrado.
Balancei o meu corpo contra uma qualquer parede imaginária, na esperança de ruir.
Mas a saudade deixou-me de pé.
Sim, a mesma saudade que agora me despedaça.
E o comboio chegou na linha ao lado.
Eram 20h00 do dia 11 de Maio de um ano qualquer.
Estava ali há 3 dias.
E tu não chegaste.
Esperei até cair.
O meu vestido de algodão branco, pintado com as poeiras dos dias que ali passei, estava irreconhecível. Sem forças, com lágrimas a escorrerem cara abaixo, desisti.
Deixei-me cair no chão, e ali fiquei, sentada, até alguém ter tido pena de mim e me ter levantado.
Alguém, a quem não vi a cara, conseguiu salvar-me de me afogar em ti.
Bastou uma mão.
E tu, que eras tão forte, afinal deixaste-me cair.
Só não largaste a saudade.
Fazes-me falta.
* Constanza.