A menina inclinada.*

Com um pé no mundo e outro de fora.

Não sabes se hás de cair ou desafiar a gravidade. Não visualizas saída fácil.

Desconcertado, optas pela primeira. Um rombo não te deverá fazer mossa.

Mas sejamos francos, o que sabes tu disso?

Num mundo tão torto, és dos que caminha mais direito.
Ou a direito, como queiras.

Soprem ventos e vendavais que nem um dos teus cabelos se atreve a sair do lugar.

Dias inteiros que nos fustigam a aparência e tu permaneces intacto, como numa redoma de vidro que parece propositadamente feita para brilhares.

Aparentemente não há cinzento que te cubra os olhos.
Sempre resplandecentes.

O calor derrete-nos e tu pareces conservado por uma brisa suave mas refrescante.

São seis da tarde e cheiras bem, como se tivesses acabado de sair do banho.

A tua camisa continua imaculada, como quando no armário.
Nem um vinco…nem um só.

E quando tentas parecer um sapo, só consegues parecer-te ainda mais com um príncipe.

E eu só me pergunto…onde raio está a minha escova?!



Feitas as contas, e uma vez que a outra opção é assustadoramente real (seres perfeito), chego à conclusão que talvez seja eu que te veja com olhos tortos - inclinada, em leve adoração.
Pois é, pensando bem, inclino-me para isso.

 
* Peeters & Schuiten.
 
** Gicas e Diogo.
** Edição - Paulo Silva.
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