Make it just a bad dream.


Habituei-me a ter-te aí, luz de presença quando a noite vai alta.

Uma espécie de conforto neste caminho torto que sinuoso percorre a vida.

Nem sempre sorríamos juntos, nem sequer partilhávamos histórias por aí além.

Unia-nos o carinho quente da memória, o doce sabor do sonho ingénuo.

Presença discreta, serena, que me acalmava os ímpetos de barulho que de quando em vez me sacudiam.

Não falavas muito, porque não precisavas, a nossa linguagem era essencialmente corporal, como se fosse um segredo que quiséssemos guardar de ouvidos indiscretos.

Quando não estavas, que era quase sempre, gostava de me aninhar nos teus braços demasiado magros para o meu querer e ali pairar no silêncio da música que nos fazia festinhas até adormecer.

E era sempre tão suave esse adormecer.

Nesse imaginado querer, acabavas sempre por me aconchegar à almofada, e esconder-me do frio em cobertores feitos de algodão e pele. A tua, que era tanto minha como tu.

E como se me conhecesses desde sempre, depositavas em mim todos os sonhos do mundo, e pelo meio, deixavas inevitavelmente cair um beijo, leve, para não me acordar.

Foi assim que me habituei a ter-te aí, qual luz de presença.

E agora que ela te preenche a vida, não sei como dormir no escuro.

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