
Ainda não consegui ultrapassar a consternação que sinto sempre que vejo, algures, um cartaz a anunciar «abraços desfeitos».
Como é que um abraço pode ser desfeito?
...
Em rigor, todos os abraços são desfeitos.
Um abraço não dura para sempre, excepto nos braços dormentes e na memória adormecida daquele que o sente.
Mas um abraço, para o ser, já o foi.
Ou seja, se um abraço se faz abraço, poderá, alguma vez, ser desfeito?
Para mim parece-me que aqui, como por exemplo na saudade, 0 «mal» não pode ser desfeito. Apenas apaziguado.
É que depois de me terem já tirado tanta coisa, não venham, por favor, desfazer-me os abraços. A única coisa desfeita, sou eu.
Soundtrack: Rosana - Lunas rotas.
Agradecimento especial: Gicas.
Edição de fotografia: Paulo Silva.