Part of living is learning to let things go.

É isto. Faço de tudo para te esquecer. Todos os dias uma espécie de rotina insana que almeja um resquício que seja de uma breve e vã sanidade que hoje não é se não memória. Fictícia, pois só.
Passo pelos dias a correr, gastando o tempo sem tempo para mais. Encho os minutos com compromissos que rotulo de inadiáveis. Esqueço as vertigens e subo bem alto, sem nunca olhar para baixo; entro na primeira estação e só saio na última, sem me permitir meditar no que quer que seja. Falo sem parar, incansável, e oiço como quem presta realmente atenção, ainda que pouco ou nada retenha. Sempre que posso danço até à exaustão. Encho os olhos de mundo e deixo-me surpreender com os mais insignificantes pormenores, ficarias espantado. Leio tanto quanto posso e pressiono-me a ignorar a ausência de significado. Sustento a sede e a fome quando se tornam inegáveis e tento não me esquecer que um gesto é suficiente para refrear os afectos. Deito-me apenas quando os olhos cansados se fecham e me apagam e saio da cama no preciso instante em que se abrem. Deixei de lançar promessas ao vento ainda que não resista a agarrá-las quando as vejo por aí perdidas a flutuar. Tento honrar as minhas escolhas da mesma maneira que não me esqueço de agradecer as minhas bênçãos. E não há dia que passe sem que diga as minhas preces. É isto. Sem que o consiga explicar vou-me mantendo à tona na tormenta da tua ausência, ainda que só a memória me permita respirar. Aguento-me como posso, sem querer menos, sem esperar mais. Cada dia uma batalha, cada noite uma vitória. Efémera. Uma travessia do deserto por um cubo de gelo. Demasiado frágil. Consciente de que um vislumbre teu e o meu mundo acaba.
Até hoje.



I., ladrões só de corações. Não estás sozinha. 


* Inês. 
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