Dos dias em que nos assola a saudade.

Vou bater à tua porta. Agora, a correr. Acabo de o decidir e o meu coração já corre acelerado, à espera que o resto do corpo o acompanhe. Para trás só fica a cabeça.
São 21:18 e não sei onde deixei a palavra alento. Subo até ao castelo em passo rápido, velocidade em forma de uma qualquer imaginária muralha para não pensar, jogos de força com a mente, esse monstro que nunca nos sai do armário. Passo ao lado de prostitutas e bêbados, perdidos da vida, na vida, sem réstia de vida como hoje a leio. Cruzo-me com velhos e crianças, prólogo e epílogo de uma mesma história. Tropeço em pedras da esburacada calçada e apanho do chão um sem fim de lamúrias esquecidas. Dos outros, ou minhas, uma confusão/novação que nem tento perceber. O tempo urge, sem que ninguém com isso concorde. Praguejo sem medo de ser ouvida, contra os infortúnios dos dias, contra a porra da saudade com que me deixas. Não paro sequer por um instante, com medo de vacilar, de me perder no pensar, no lembrar, no esquecer que tanto tarda. Continuo a subir, com passos certos e consistentes, coordenada como uma bússola programada a brincar com um mapa. Sei que vou, não sei para o quê. Quem olhar para mim de certo julgará que tenho uma rota traçada, um caminho a seguir. Só nos passos, que a cabeça, essa, está completamente à deriva, mercê do meu inquieto coração. 




* Ana.
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