Às dores inventadas prefere as reais, doem muito menos ou então muito mais.*

Há trinta e três dias que o teu fantasma me persegue. Está em cada esquina que dobro, em cada degrau que subo e até ao meu lado quando me deito. Não fala, mas sorri. Colado a mim, ainda que não me agarre. Nunca tentei tocar-lhe, coíbo-me, com medo que desapareça. Nos dias bons, em que corre uma brisa, consigo cheirá-lo. Carrega com ele aquele cheiro distinto que só a tua pele tem.
É mais frio do que tu, o teu fantasma, mas, ainda assim, o conforto que me traz imaginar-te aqui, é tudo o que nestes dias tem mantido a minha alma agarrada ao meu corpo.


* Alexandre O'neill.
** NY, public library.
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