Three days, three days for the world to turn right-side up again.


Sou uma pessoa de fé. Inabalável, diria, mas, para não mentir, tenho de dizer que, momento houve, em que a vi abalada, pior, estrangulada, por nem todas as minhas ávidas preces terem sido suficientes e a ausência de parte de mim ter ganho um lugar cativo ao lado da saudade, facto que inevitavelmente me mudou, para sempre.
Nos dias normais, porém, sou uma pessoa de fé. Tenho fé no mundo, na vida, em mim e nos outros.
A ver uma série, ouvi uma teoria interessante. Dizia uma das personagens, face à angústia triste de outra, que três dias é o tempo que o nosso cérebro demora a processar uma mudança estrutural. A história que lhe contou era a de um conjunto de pessoas a quem tinha sido colocados uns óculos que as faziam ver o mundo de pernas para o ar. Ao princípio, um horror, mas, aos poucos, o cérebro foi-se ajustando, e ao fim de três dias, quando lhes tiraram os óculos, o mundo “normal” era o que lhes parecia agora de pernas para o ar.
Achei interessante, ou então uma espécie de bóia de salvação. Seja como for, corroborei a ideia; parece que George Stratton se debruçou sobre o papel fundamental que o nosso cérebro tem na nossa percepção do mundo, adaptando-se (de forma incrível) àquilo que lhe permitimos absorver. O mundo, como o vemos, é a imagem processada através da linha directa que vai dos nossos olhos ao nosso cérebro. Uma espécie de circuito integrado, perfeito, que recebe a informação e a processa de maneira a construir a nossa percepção do resultado final. É, por isso, que se a nossa visão do mundo for, de alguma maneira, alterada, o nosso cérebro se reestruturará, permitindo-nos “perceber” o mundo como “normal” outra vez.
Dou por mim a pensar no quão apurado é o nosso instinto de sobrevivência. Intrinsecamente genial.
E a minha fé, vendo a minha serenidade abalada, respira agora fundo.

Três dias. Ou talvez um pouco mais.

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