É demasiado fácil mergulhar fora do mundo e pensar em ti.
Num instante os anos congelaram-se num inspirado suspiro e estás aqui, ao meu lado, de havaianas nos pés e cabelo ainda molhado.
Compramos água na BP dos salesianos e, inconsciente, atravessas a marginal de um lado ao outro, por cima de um traço mais contínuo do que o teu humor.
Nervosa, rio-me, com o medo na ponta da língua mas o coração feliz nas mãos.
Estás comigo, e a patética verdade é que quando assim é nada mais parece importante.
Pegas-me ao colo com uma impensável facilidade e eu finjo que quero que me ponhas no chão.
Falas-me baixinho ao ouvido, como se as banalidades que trocamos fossem um qualquer segredo de estado.
Provocador, mordes-me a orelha, devagar – pelo tempo que dura um arrepio.
Abraças-me demasiado bem, por um minuto demasiado curto, até alguma coisa te acordar desse melódico transe de serenidade em que nos deixaste.
De forma quase brusca tiras-me do teu colo, porque sem saberes como, são 6 da manhã e tens de voltar para casa.
E eu, a achar que casa é ali, no teu abraço, disfarço a tristeza e deixo-te ir, a sorrir.
Sento-me na cama, demasiado feliz para conseguir dormir, demasiado cansada para o não fazer.
Volto à superfície. E tu não estás aqui.
É demasiado difícil pensar nisso.
* Leonor.