Cheia do teu vazio.


Fazes-me falta.

Mais do que posso admitir. Vamos supor, para o que aqui interessa, que posso e quero são sinónimos.
A tua ausência enche-me de vazio. Daquele frio, que ecoa.

Eco torpe do barulho do teu sorriso…da intensidade do teu cheiro…da suavidade do teu toque. Que vazio tão cheio. Cheio, cheio, a transbordar.

Do quê?! Que pergunta é essa?! A transbordar de vazio. Do que mais?!

Assim que o digo soa-me a disparate. Mas assim me tens.

Não há recipiente que aguente tamanha desfaçatez. Transbordo. Transbordas.

*Suspiro*

Vem livrar-me de algum destes bocados de ti. Por favor, suplico-te.

Ainda que nos tenhamos largado ao mundo, sei que o mundo não nos largou tão sós.

Não me preenches, mas ainda me enches.

Persistes em mim como laivos de luz…pipocas de algodão…espuma de nuvens…bolas de sabão…

Persistes.

Tudo começou quando me quiseste desenhar no azul do teu céu, quando me quiseste oferecer um nome e uma identidade.

Foi quando me esboçaste no teu mundo que me tornaste real.

Fizeste-me ser que sente. Tornaste-me personagem da tua história.

E eu, qual boneca de pano, fui-me enchendo com bocados de ti que me cedias.

E agora que te foste, sinto-me vazia.

Mas sei, e tu sabes, que vais ser sempre um bocado de mim.
E isso, ninguém te tira.
Ninguém me tira.
Ninguém nos tira.

Somos feitos uns dos outros.
É por isso que nunca estamos verdadeiramente sozinhos.



* Carrasqueira.
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