Era miúda, e o carro tinha sido roubado da garagem do pai da minha grande amiga.
Ela não sabia conduzir, nem tinhamos idade para ser responsáveis.
Quando o motor foi abaixo, em S. Pedro, fechou-se a cancela.
O perigo, estridente, apitava desalmadamente.
E nós ali paradas, no meio da linha, sem poder andar para trás ou para a frente.
Foi então que a senhora, mais velha, de bandeirola na mão, guardiã de vidas, disse serenamente, «não se mexam, que o comboio vem nesta linha».
O monstro passou furioso. E pudemos continuar em frente.
Constato que não obstante a idade já permitir conduzir, tudo o resto continua igual.
De quando em vez damos connosco fechadas entre cancelas, com um medo atrozmente veloz a tentar não nos deixar passar; a ameaçar levar-nos na fúria.
Vale-nos sempre a senhora serenidade.