Quando o telefone toca.


Não, não é um programa de televisão.

É antecipada visão de uma nostálgica saudade. Eterna, se isso existir.

Ontem ligaste-me. E eu, sem jeito, por saber que me vão faltar as forças, por saber que me vais melar a voz, olho em desespero cerrado para o ecrán do meu telefone.

A indecisão tolhe-me a racionalidade. Ou será o contrário? Desperto do meu sonolento querer com o teu insistente toque.

E então decido. Como num qualquer trilho numa floresta embrenhado, em que é preciso escolher, eu decido.

O teu rouco olá acaba comigo logo ali. Toda a ensaiada lição se desvanece. De repente não sei sequer onde estou. Volto a ter 5 anos de idade e tu, és uma espécie de pequeno pónei preferido da minha colecção, aquele que me rouba a atenção ingénua de menina.

Construo em mim um ser que não há, e digo-te que não, mais de muitas vezes. Não, não quero ir almoçar contigo. Não, não quero ir ver a tua casa. Não, não quero saber de ti. Tudo mentiras. Mentiras cerradas de saudade...encerradas em ilusões. Logo eu, que sempre militei pela verdade.


Chega, decidi, há um tempo atrás, que acabou. E o fim, do que quer que seja, somos nós que o construimos.


Disse-to uma vez, e repito:

«Se um dia passares por mim na rua, não páres. Suplico-te que continues em frente, sem sequer olhar para trás.
De contrário, as consequências podiam ser dramáticas.
(...)

Por isso faz-me um favor, se um dia passares por mim na rua, não páres.
O amor precisa de andar para a frente.»



Não sei o que é. Mas quando o telefone toca, depois do arrepio, esvazias-me qualquer resquício de maturidade.



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