Irrita-me sobremaneira saber que há algo de pretensioso no vagabundo deambular dos dias. Sonsos! Hipócritas! Julgamo-nos donos de nós, apenas para constatar que nós, são-nos sem piedade! É verdade.
Fogem-nos da mão as oportunidades. Rasgam-se momentos em hipotéticas probabilidades. Doce ilusão feita de sonho…de querer.
A ânsia reina em altar de sofreguidão. No fundo é só tensão. Desprovida de paixão.
Ânsia…ânsia…ânsia…dita três vezes como que para acreditar…no fundo nada pode escapar…mas constato que nada, é efectivamente tudo o que sobra. Restos e migalhas de sonhos…perdidos…deliberadamente escondidos…espalhados por aí em tabuleiros de promessas que se vendem aos pares.
Lá fora, a guerra. Não é fria, apenas aberta. A única coisa que nos gela é o sentir. Pasmados quando alguém sente. Ah! Exclamam, afinal é gente!
Os ensaiados sorrisos escondem a latejante dor.
Todos os dias se travam sangrentas batalhas contra o espelho. Guerra desequilibrada e imparcial. Somos…já fomos…queremos ser.
Todas as noites, quando já dormes, naquele sono leve, sussurro-te docemente ao ouvido.
O quanto te gosto, o quão belo o mundo é. Conto-te histórias, sussurradas, de dias que aí vêm, de sentimentos que outrora eram teus. Se to disser, de dia, não me ouves. Talvez assim, ao acordares, haja alguma coisa que consigas reter…quem sabe, um dia não acordes fora deste pesadelo. O sonho é real.
Não há ponto sem nó. Não há vida sem dó.
Falta pouco para te acabar de coser.
Soundtrack: The Killers - A dustland fairytale