Palavras esdrúxulas.


Bem sei que todas as cartas de amor são, alegadamente, ridículas. Mas, meu bem, ridículo seria não te dizer o quanto me alegras, me serenas, me acarinhas. Ridículo seria não saberes que mudaste a minha vida, para melhor – tão melhor -, desde o primeiro dia em que dela fizeste parte e que isso tem, para mim, um valor incalculável.

Podem zombar do que te digo, pouco me importa. O meu coração alenta o que a cabeça pede à mão que aqui escreva. E é a sorrir que te lembro e me tento esquecer da saudade que me embala as horas.

Não há dia que passe, em que não dê por abençoada esta vida que Deus quis e que quis que eu quisesse – oh, e quero tanto! Que vida tão rica, desde que te encontrei. Os dias são novos, é sempre assim, mas a métrica por que me guio é a mesma e, ainda assim, sinto-a diferente. Como se valessem mais. Estou certa de que os vivo mais, e de que isso a ti te devo – obrigada!

Polvilhas os meus dias com doçura e aconchegas-me as inseguranças numa manta remendada de coragem. Ao teu lado sou rei, rainha, a maior da minha aldeia! Posso tudo o que almejo, ou pelo menos acredito em tudo o quanto posso fazer. Acredito no meu eu em que acreditas, e ganho forças para o caminho. Um passo em falso não é o fim do mundo, esse que iluminas com um simples sorriso. Como quando me ouves chegar a casa e corres para a porta para me abraçar. Sinto amor a pulsar em cada punhado de ar que inspiro, como se por dentro se soltassem balões e se atirassem confettis coloridos. Sou feliz.

Há muitas mais coisas ridículas que te poderia dizer, que não seriam, porém, mentira nenhuma. Como quando adormeces demasiado rápido, cansado, e eu não consigo desligar a luz para te ficar a ver dormir, sereno, porque isso me aconchega e me transfere igual serenidade. Fico a sorrir sozinha com os trejeitos que fazes com a boca. Podia dizer-te que quando acordo de um pesadelo me encosto a ti para te sentir o respirar e que é apenas por isso que consigo voltar a adormecer. Podia tentar explicar-te que sinto o mundo a descomprimir quando oiço a chave na porta e sei que vais entrar, como se pudesse regular a intensidade da luz e o seu brilho estivesse agora no máximo.

Podia dizer-te tanto, e no entanto, vou deixar que o ridículo do amor fale por mim, e que de todas as vezes que me vejas sorrir, percebas que essa é a maior declaração de amor possível, que um sorriso genuíno vem de dentro, e não há nada de ridículo nisso.


 
  * Porto Covo.
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